Hoje a resenha é do livro Cante para eu Dormir, e saiu no blog Literatura de cabeça:
Meu Deus, como posso começar?
Como posso expressar em palavras o que senti em minhas mãos?
Começo a escrever dizendo que choro. Ainda choro depois de ler Cante para eu Dormir. Devo dizer também que não gosto de ler dramas, como o livro é classificado. Mas, quer saber? Não o classificaria como um drama. Vou explicar por quê.
Cante para Eu Dormir não é perfeito. É tão imperfeito quanto nossas vidas podem ser. Beth é uma menina que se acostumou a sofrer bulliyng na escola. E na vida. Sinceramente? Às vezes ela é meio idiota. O refrão “como ela é feia” que ela se vê chega a ser chato. Mas quem nunca teve uma opinião, sobre si ou sobre o outro, que não parava de repetir? Vejo meninas, mulheres (eu mesma) que dizem “estou gorda” o tempo inteiro, ainda que estejam no manequim 38. Então não culpo Beth. Ela é mesmo feia. E tem uma consciência exagerada disso.
Beth é amiga de Scott desde a pré-escola. O que ela não percebe ainda, é que Scott a ama. Ele cresceu e vê que Beth é mais que o Patinho Feio, ela é um lindo Cisne. A Fera, como chamam Beth na escola só precisa de amor para se transformar numa princesa... mas ela está perdida demais em seu universo. Em seu “não ser” e “não merecer”. Para ela todos merecem algo melhor. Menos ela.
Porque para Beth, o melhor é cantar. É a única forma de sentir-se melhor. E isso ela faz maravilhosamente bem. Ela canta no coro da escola e convence a mãe a permitir que participe do Coro da Juventude Bem-aventurada de Ann Arbor, há umas duas horas de sua cidade. E, quando a solista do coro Meadow desiste de cantar nas Olimpíadas, Beth tem a sua chance. A CHANCE. E desta vez, ela sabe que merece.
E canta. Canta de uma forma tão magnífica que ultrapassa as páginas do livro. A melodia é descrita de forma tão graciosa, que você quase esquece que está sem som, e que na verdade, é poesia. A prosa poética é tão encantadora, que Beth vasculha cada parte de seu ser, encontrando no leitor suas inseguranças, seus medos, seus sonhos... quem nunca se sentiu inferior? Quem nunca quis ser melhor? Quem nunca despedaçou o coração?
E o Coro vai às Olimpíadas. Antes de ir Beth sofre uma transformação, para se tornar A Solista. Laser para espinhas, cirurgia para os óculos, chapinha para o cabelo. A Fera se transforma em princesa. Lá ela conhece um rapaz de outro coro que a havia adicionado numa rede social, o Derek. Derek é encantador e é ele quem diz que a voz do Solo de Beth “Canta para ele dormir”. Pela primeira vez na vida Beth sente que merece. Ela agora é bonita. Derek não precisa conhecer “a Fera” só “a Bela”.
Mas eles não querem só um amor de viagem (pensei em nosso conceito de “amor de verão” mas as Olimpíadas de Coros se passam na Suíça, na neve, e achei que amor de verão não ia combinar); depois da vitória do Coro de Jovens Amabile (de Derek) e da Juventude Bem-Aventurada de Ann Arbor (de Beth) entre os três melhores do MUNDO, o sonho começa a desmoronar e eles tem que voltar pra casa.
Aí a realidade começa.
Não sei se devo falar mais sobre a história. O livro inteiro contém pistas óbvias sobre o que está acontecendo e sobre o que vai acontecer. Derek não é bem um príncipe encantado, ele tem defeitos. Scott também. Ambos são fofos. E, sem perceber, Beth ama a ambos. Do mesmo jeito e de jeitos diferentes. Cante para Eu Dormir embalou meus sonhos durante quatro noites, me roubou meus 15 minutos de almoço e lavou meu rosto, umedecendo suas páginas quando chegou ao fim. Encantador é pouco. É puro. Ou talvez eu seja boba. Só talvez.
“Quem será o menino que vai curar meu coração?
Quem será o menino que vai alimentar a minha canção?
Onde encontrarei um amigo?
Quem será o menino que vai me salvar?
Quem será o menino que me fará cantar?
Você me fez viver, me fez ser quem sou.
Se for embora, leve-me com você,
Pegue a minha mão.”
(Pág 343, Cante para Eu Dormir. Morrisson, Angela. Carapicuiba, SP. Pandorga Editora e Produtora, 2011. 351 págs.)