Mais uma resenha imperdível, confira:
***Pode conter spoilers do primeiro livro da série, ‘O Motivo’***
Título: A Missão
Título Original: The Ask and The Answer
Autor: Patrick Ness
Editora: Pandorga
Páginas: 492
Ano: 2012
Sinopse: Nós estávamos na Praça, na praça onde eu iria correr, segurando ela, carregando ela, dizendo-lhe para permanecer viva, permanecer viva até que nós estivéssemos seguros, até que chegássemos ao paraíso, assim, poderiam salvá-la – mas não havia nenhuma segurança, nenhuma segurança em nada, havia apenas ele e seus homens… Fugindo anteriormente de um exército implacável, Todd deixou Viola ser desesperadamente ferida direto nas mãos de seu pior inimigo, o prefeito Prentiss. Imediatamente separado de Viola e preso, Todd é forçado a aprender os caminhos da nova ordem do prefeito. Mas que segredos se escondem fora da cidade? E onde está Viola? Ela ainda está viva? E qual é a misteriosa resposta? E então, um dia, as bombas começam a explodir… “A Missão” é um romance tenso, chocante e profundamente comovente de resistência sob a pressão mais extrema. Este é o segundo título da trilogia “Mundo em Caos”.
Mas ele não poderia, não é mesmo?
Ele não poderia fazer isso e viver consigo mesmo depois.
Ele não poderia fazer isso e continuar sendo Todd Hewitt.
O garoto que não consegue matar.
O HOMEM que não consegue matar.
Nós somos as escolhas que fazemos.
Depois de viver o inferno fugindo de Davy e de Aaron, Todd e Viola finalmente chagaram aParaisópolis. Só que Paraisópolis não existe mais. Agora, o prefeito Prentiss é o líder do lugar, e se autointitula Presidente do Novo Mundo, líder de Nova Prentissburgo. Separados, Todd só consegue pensar em Viola, e Viola em Todd. Será que estão bem? Será que não foram machucados? Por que não podem se encontrar?
Cada um de um lado, tanto Todd quanto Viola começam a perceber o inevitável: Dois grupos – A Pergunta e A Resposta – dois líderes, ambos querendo o controle do Novo Mundo. Dois líderes que se condenam, mas que, no fundo são simplesmente iguais. E ambos querem Todd e Viola como aliados.
Logo os dois são obrigados a seguir as regras dessa nova ordem, e o desfecho só pode ser um: Uma guerra nunca vista antes. Maior que a guerra contra os Spackles. Maior do que qualquer coisa.
O garoto que não consegue matar.
A garota do Velho Mundo.
A Pergunta.
A Resposta.
E a guerra.
A guerra que transforma homens em monstros.
Eu preciso gritar para o mundo inteiro que, pelo amor de Deus, Mundo em Caos é a melhor série distópica de todas. E eu nem li o último livro ainda. Mas já é, disparado, a melhor de todas. No segundo livro.
Eu sei, estou surtada, e essa resenha vai, provavelmente, continuar assim até o final. Culpem Patrick Ness por escrever livros épicos. Mas vou tentar organizar meus pensamentos.
A Missão é o segundo volume da trilogia Mundo em Caos (Chaos Walking). Nesse volume, além do ponto de vista de Todd, também temos o ponto de vista de Viola, com capítulos intercalados. Isso nos dá uma nova perspectiva do que está acontecendo no Novo Mundo, além de entendermos melhor a garota – que, confesso, superou minhas expectativas.
O uso do português coloquial continua, mas não de um jeito irritante ou exagerado como emCaminhos de Sangue, por exemplo. É simplesmente o português falado, e não o português incorreto – e essa é uma das características que eu mais gosto no livro, principalmente nas partes do Todd. Porque é exatamente a cara dele esse tipo de narração.
Novamente, Todd é um emaranhado de pensamentos e sentimentos. Ele quebra as frases no meio, ele mesmo se interrompe e narra tudo de um jeito frenético e acelerado. Apesar de gostar dos capítulos da Viola, os dele continuam sendo meus preferidos, porque são absurdamente expressivos. Ainda não encontrei alguém que consiga me fazer entrar tanto na mente de um personagem como Patrick Ness fez com o Todd. Gênio.
Mais uma vez preciso bater na tecla que eu sempre bato em relação a essa série, e o motivo por eu gostar tanto dela. É violenta? É violenta. É tensa? É tensa. É cruel? É muito cruel. Mas ela é reflexiva e muito, muito sentimental.
O Todd sente. A Viola sente. Eles sentem medo, eles sentem raiva, eles sentem compaixão e eles se preocupam um com o outro. Nada ali é fingido ou forçado, nada ali é frio ou indiferente. Já falei e vou repetir: Distopias por si só são coisas frias, distantes, autoritárias. A beleza da obra de Patrick Ness é que ele criou personagens humanos, humanos até demais, que são o completo oposto do regime em questão. Eles são como protagonistas distópicos deveriam ser.
- Mas é isso que o torna poderoso, Todd Hewitt. Neste mundo de entorpecimento e sobrecarga de informação, a habilidade de sentir, meu garoto, é de fato um dom raro.
Pág. 433
Outra coisa que eu simplesmente amo nessa série é a relação de Todd com Viola. A sensação de amizade verdadeira, do amor que eles sentem um pelo outro – de uma forma completamente inocente. De uma forma tão difícil de ver hoje em dia, simplesmente pura. Sem aquela apelação dos livros YA. Pelo amor Deus, eles mal se tocam o livro todo e dá pra sentir todas as emoções de cada um muito mais profundamente do que muitos relacionamentos de tantos livros por aí. Patrick Ness, você é um gênio.
- Então a gente se perdoa? – o sorriso torto aparece mais uma vez. – De novo?
Eu olho diretamente em seus olhos, diretamente dentro dele, o máximo que consigo, porque eu quero que ele me escute, eu quero que ele escute tudo o que eu quero dizer e tudo o que eu estou sentindo.
- Sempre – eu digo. – Todas as vezes.
Pág. 403
Claro, eu também não podia deixar de falar da trama. Sabe aquela história de que “em uma guerra todos saem perdendo”? É muito fácil usar essa frase, mas Patrick mostra isso. Mostra isso de uma forma brilhante, de um modo que eu nunca tinha conseguido entender ou ver antes. Muitas e muitas vezes durante a leitura eu me peguei visualizando a guerra do Novo Mundo como as guerras que tivemos aqui no início do século XX. Me peguei imaginando o que motivava os líderes, a situação das pessoas, e como realmente todas aquelas pessoas podem enlouquecer a ponto de achar que o que fazem é certo.
Se eu fosse professora de história, essa seria uma série obrigatória para leitura dos meus alunos. Em tantos e tantos anos de escola, nunca consegui imaginar como uma guerra era de verdade. Nunca consegui sentir o que aquilo significava. E Patrick Ness conseguiu me mostrar, pela primeira vez.
Cara, você é um gênio.
- Se algum dia você presenciar uma guerra – ela diz, sem tirar os olhos da prancheta -, aprenderá que a guerra só destrói. Ninguém escapa de uma guerra. Ninguém. Nem os sobreviventes [...]
- A guerra transforma homens em monstros.
Pág. 108
A Missão não tem um ritmo tão frenético quanto O Motivo, mas é muito mais reflexivo. Ele realmente te faz pensar, te choca, e te faz entender como o poder realmente transforma homens em monstros. Apesar de se passar em um outro mundo, é a distopia mais real e mais humana com a qual já me deparei.
Não é que você não deveria amar tanto algo que ele possa te controlar.
Você PRECISA amar algo tanto para NUNCA PODER SER CONTROLADO.
Não é uma fraqueza…
É a sua melhor força…
Pág. 464
Patrick Ness… Mais uma vez, gênio.
0 opiniões:
Postar um comentário